Digital Humanities e Teoria Corpomídia

Vale registrar o conjunto de reflexões sobre a intersecção entre a máquina e o humano (o novo homem digital) a partir das questões da escrita e leitura, que se reúne sob a nomenclatura de Digital Humanities (Humanidades Digitais)[1], e os novos hábitos cognitivos produzidos com o advento desse universo online.

            Alguns, mais ousados, já chegaram a postular que o acesso à Internet é inerente à “dignidade da pessoa humana”, devendo ser garantida no rol de Direitos Fundamentais da nossa Constituição Federal, lado a lado com outros Direitos e Garantias Fundamentais, como o direito à vida, à saúde, à educação, ao livre pensamento e etc. A pesquisa do IBOPE Media[2], de 16/07/2014, apontou que a Internet é a principal fonte de entretenimento para 43% dos jovens; a rede social Facebook divulgou que o Brasil é o país com mais acessos e tempo gastos na sua rede social, com 53 milhões de internautas/dia acessando o Facebook, dos quais 30 milhões o fazem por aparelhos móveis[3].

            Muitos dos paradigmas e entendimentos de como viver em harmonia na sociedade, que levaram séculos para serem, de certa forma, sacramentados, foram parcialmente derrubados e, em certos casos, afrontados com esse novo modelo de viver a vida e se relacionar, que emanou da Internet.

            Importante esclarecer que, muito embora saibamos que a Internet é, em certos casos, considerada “prejudicial” aos seres humanos por contribuir com o afastamento do convívio físico entre as pessoas, gerando compulsão, intolerância, ansiedade e outros males da sociedade moderna, ao mudar o comportamento dos indivíduos por criar novos hábitos cognitivos, não iremos apontar nosso estudo nessa direção. Estamos convencidos de que esse é um caminho sem volta, ou seja, as pessoas que foram “tocadas” pelo digital dificilmente voltarão ao estado analógico. A Teoria Corpomídia (KATZ e GREINER) explica:

 

“O corpo não é um meio por onde a informação simplesmente passa, pois toda informação que chega entra em negociação com as que já estão. O corpo é o resultado desses cruzamentos, e não um lugar onde as informações são apenas abrigadas. É com esta noção de mídia de si mesmo que o corpomídia lida, e não com a ideia de mídia pensada como veículo de transmissão. A mídia à qual o corpomídia se refere diz respeito ao processo evolutivo de selecionar informações que vão constituindo o corpo. A informação se transmite em processo de contaminação” (KATZ e GREINER, 2005, p.131)

 

            Sem contar com o fato de que, posta numa balança, consideramos as benesses provenientes da Internet infinitamente mais relevantes, em comparação aos seus malefícios. Acreditamos que toda essa gama de oportunidades e novidades que foram abertas pela Internet ainda são todas muito recentes e que iremos nos ajustando a esse novo modelo de vida no decorrer do tempo. Somos pessimistas com relação aos temas inclusão digital e Internet democrática, mas somos otimistas ao afirmar que os que  já estão incluídos no mundo digital serão capazes de se adaptar e contribuir significativamente para a evolução da Internet.

            Portanto, tentaremos contribuir com uma análise crítica de algumas questões e situações, que jamais poderiam ser previstas por nossos legisladores antes do surgimento da Internet. Nosso objetivo é apontar um caminho para que a Internet também possa ser vivida de forma mais harmoniosa, respeitando garantias, direitos e deveres que já nos guiam enquanto cidadãos. Em tempos em que se estuda a ligação homem-máquina compreendendo que ela se dá como uma relação com o ambiente (Teoria Corpomídia), pode-se fazer dessa compreensão o viés epistemológico para lidar com os assuntos que vêm a seguir.

[1] Digital Humanities – As Humanidades digitais são uma área de pesquisa, ensino e criação preocupado com a intersecção da computação e as disciplinas das ciências humanas. O desenvolvimento das áreas de computação, ciências humanas e computação humanista. (nossa tradução).

Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Digital_humanities

Ainda sobre Digital Humanities David Berry em “Understanding Digital Humanities” (2012, p.22) – “Carr’s (2010:22-35) overview of academic theory documenting the way in which our brains change in response to interaction with digital technology seems to confirm some of the concepts developed in this volume – that the digital change is profound. With each new interaction, we become something different, as our brains adapt to the new requirements of digital data processing. We become tailored to a ‘hyper-attention mode (related to eletronic media)’, rather than a ‘deep-attention mode (related to print)’ (Hazel 2010). “A visão acadêmica de Carr (2010, p.22-35) é uma teoria que diz que vamos documentando a forma como o nosso cérebro muda em resposta à interação com a tecnologia digital, onde parece confirmar alguns dos conceitos desenvolvidos aqui – que a mudança através do digital é profunda. A cada nova interação, tornamo-nos algo diferente, conforme nosso cérebro se adapta às novas exigências do processamento de dados digital. Nos transformamos em indivíduos “sob-medida” para um “modo de hiper-atenção (relacionados com a mídia eletrônica) do que um “modo de profunda atenção (relacionada com a impressão)’ (Hazel 2010)” (nossa tradução) (nossos grifos).

[2]A internet é a principal fonte de entretenimento para 43% dos jovens, aponta IBOPE Media” Disponível em: http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/A-internet-e-a-principal-fonte-de-entretenimento-para-43-dos-jovens-aponta-IBOPE-Media.aspx

[3]Brasileiro gasta mais de 12 horas por mês com o Facebook

Disponível em: http://olhardigital.uol.com.br/noticia/40875/40875

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