Banda Larga Móvel x Banda Larga Fixa no Brasil. Alguns dados estatísticos do 1º Semestre de 2014.

Com o advento da Internet e pela Internet não transitamos mais na criação de produtos sob a égide da inteligência da busca pelo “Destinatário Ideal”, mas regidos pelo “Destinatário Real” que no caminho inverso buscará por nós através de palavras-chave (keywords) nos mecanismos de busca como Google, Yahoo, Bing e etc. Na prática demonstramos que com o surgimento da Internet, a barreira da “Recepção” no conceito e no espaço Interno-Externo do filósofo francês Charaudeau está relativizada, isto é, a busca pelo alvo, aquela pessoa para o qual o produto está sendo idealizado e direcionado. É claro que o local dos efeitos esperados permanecerá, mas não é mais o único determinador dentro dessa relação, mas o “Externo-Externo” classificado por Charaudeau, ou seja, o “Receptor Real”, aquele que vai consumir as informações e interpretá-las de acordo com suas próprias condições, é o que comandará o fluxo da produção.

A não longícua Web 3.0, nomenclatura esta, que fora empregada pela primeira vez pelo jornalista John Markoff em um artigo do New York Times, que será a terceira “geração” da Internet onde seguindo o conceito de uma “rede semântica” proposta pelo inglês Tim Berners-Lee, espera-se o desenvolvimento de programas que entendam como fazer melhor o uso do chamado banco de dados mundial (World Wide Database). A Web 3.0 pretende organizar e agrupar as páginas de Internet por temas, assuntos, e interesses previamente expressos pelo Internauta. Segundo Markoff, a Web 3.0 será regida por um senso comum. Estudos e desenvolvimentos de trabalhos já têm sito realizados tanto nos Estados Unidos como no Brasil.

            Entretanto, em vias da invasão a qualquer momento da Web 3.0 em nossas vidas, não objetivamos com esse artigo apenas aflorar um deslumbramento míope ou até mesmo cego com a democratização da informação per se. Não temos como escopo transformar esse artigo em um livro de História do Marketing Digital e seus impactos nas Economias Mediáticas e nos limitar a conjecturar o futuro. Como muito bem exemplifica Edgar Morin citando a separação operada por Descartes no Século XVII onde o Ego cogitans e a Res extensa foi dividida, ou seja, uma ruptura entre a ciência e a filosofia, Morin afirma com propriedade que isso é trágico pois transforma a ciência em uma atividade irrefletida e a filosofia deixa de ser alimentada empiricamente, e, por fim, afirma: caminhando juntas, elas seriam mais fortes.

            E, seguindo as sábias palavras de Morin e trabalhando com o conceito de consiliência trazida por E. O. Wilson em 1840, uma interdisciplinaridade se faz necessária como preceitua o artigo de John Hartley em “Os Estudos Culturais e a urgência por interdisciplinaridade cedo, e não tarde, vamos precisar de uma Ciência da Cultura.”

            Por evidente, não entraremos aqui especificamente em uma Ciência da Cultura, todavia, ousaremos mais uma vez em nossos estudos na tentativa de provar e comprovar que a Internet se constitui num 4º Poder. Ao contrário da TV que um dia também foi classificada desta forma e perdeu suas forças por ela mesma, isto é, no jogo de manipulação, auto-manipulação se deixando levar (não no sentido negativo, mas como decurso natural de sua própria estrutura de empresa que objetiva muito mais o lucro em detrimento da boa informação) pela força dos concorrentes, agora abre espaço de fato para um 4º Poder ao lado da Justiça, Exército e Igreja.

            Acreditamos que nos dias atuais, é possível chamarmos a Internet de 4º Poder. Como já dizia Jenkins, “O princípio mais importante instituído com a cibercultura é o de que o público determina a forma e conteúdo do meio, estrutura e controla a comunicação.” Muito embora, há bastante tempo, já se venha dizendo que os meios mediáticos convencionais não são verticais nem unilaterais, essa ideia se expande de modo muito mais contundente e expressiva quando se fala da inter-relação entre o Homem e a Internet. Genericamente falando nessa introdução, agora todos nessa sociedade Globalizada são donos e produtores de seus próprios conteúdos à exceção de países com regimes totalitários. Como se diz na linguagem do mercado: Agora o consumidor tem vez! E, por essa razão não estamos de ante-mão excluindo as produções micro-individuais do passado, mas ratificando que no Mundo atual tudo aquilo que outrora fora micro, agora tem potencialidades de se tornarem macro. Há espaço para isso. Há canais para divulgação e propagação que são para todos, independentemente de condição social, etnia, credo e etc. Agora todos podem falar e serem ouvidos. Por ora ainda não há “censura de conteúdo” na Internet (excluindo-se material destinado ao público adulto e aos assuntos que tratam de direitos autorais). Observa-se que mesmo através dos remédios jurídicos legais que regulam principalmente os mais comuns crimes na Internet, isto é, os Crimes Contra a Honra (calúnia, difamação e injúria), como se diz na linguagem cibernética: O que está na Net, não sai mais da Net. O que está na Rede, não sai mais da Rede.

            Com isso, ao mesmo tempo em que pretensiosamente criamos um 4º Poder igualando o Poder da Internet com outros como Justiça, Igreja e Exército, paralelamente é saudável e necessário que seja germinado um sentimento de medo.

            Medo, primeiro, porque não podemos prever o futuro da Internet, segundo, porque não podemos controlar a Internet e terceiro porque numa visão empírica baseada no próprio conceito epistemológico do empirismo na filosofia, ou seja, fundadas nas experiências vividas até o momento (com essa “irreal” possibilidade de censura), temos que nos perguntar se o filósofo Michel Foucault quando elaborou conceitos de uma Vigilância Negativa nos trazendo os extremos da Vigilância Panóptica não estava certo em suas afirmações.

Algumas perguntas com base na tese de Foucault e em nossas próprias convicções devem ser formuladas como: Até que ponto a ânsia pela informação e a curiosidade pelo outro pode transpor os direitos individuais de privacidade? Até onde a voz da democracia se faz valer mais do que a Soberania Nacional? Até que ponto os Governos estão de fato nos monitorando e vigiando com a premissa de nos proteger, de nos oferecer segurança? Até que ponto somos vistos e não nos vemos? Até que ponto a liberdade de expressão pode se opor aos Direitos Fundamentais como o Direito a Honra? Será tudo isso uma paranoia pelo medo através do desconhecimento do futuro? Se a Web 3.0 está chegando para, digamos, tornar a Internet mais inteligente e capaz de identificar parâmetros comportamentais comuns para nos trazer informações mais precisas, por outro lado, há a possibilidade de estarmos criando, municiando e preparando com nossos dados que são compartilhados globalmente um Governo eventualmente no futuro totalitário e opressor.

            Como já dizia Foucault, a vigilância é inerentemente coercitiva e dominadora – a negatividade é a pura imanência da vigilância. E continua: “A ideia do panóptico é uma ideia moderna num certo sentido, mas nós também podemos dizer que ela é totalmente arcaica já que o mecanismo do panóptico envolve basicamente colocar alguém no centro – um olho, um olhar, um princípio de vigilância – que será capaz de exercer sua função soberana sobre todos os indivíduos (colocados) dentro dessa máquina de poder. Nesses termos é que podemos dizer que o panóptico é o sonho mais antigo do mais antigo dos soberanos: nenhum dos meus sujeitos pode escapar e nenhuma de suas ações me é desconhecida. O ponto central do panóptico ainda funciona como se fosse um soberano perfeito”.

            Pôster já dizia que “Os circuitos de comunicação que existem hoje e as bases de dados que eles geram constituem um Superpanóptico, um sistema de vigilância sem paredes, janelas, torres ou guardas”.

            Em posição divergente, no artigo de Christian Fuchs ele nos conta que alguns estudiosos argumentam que a noção de Foucault de vigilância está desatualizada porque ela hoje não estaria centralizada, mas operaria de forma descentralizada e em rede, de forma que não haveria um poder vigilante central, mas muitos agentes dispersos e heterogêneos.

            De fato, também concordamos em parte no que os autores supracitados dizem que agora o sistema de controle é desterritorializado (Bogard). Além disso, entendemos também que agora a vigilância opera em via de mão dupla. Ao mesmo tempo em que se é vigiado também se pode vigiar, portanto numa conclusão simplista, a vigilância atual seria democrática, uma vez que há “direitos iguais”. Contudo, sabemos que o modus operandi não é bem assim.

            Portanto, caminhando por todas essas áreas é que pretendemos chegar ou pelo menos nos aproximar no mais real e menos utópico possível da análise sobre as inter-relações do Marketing Digital mostrando suas características de operacionalidade, de como ela é de certa forma por nos concebida o meio mediático mais eficaz para se alcançar resultados efetivos, bem como seus impactos nas diversas Economias Mediáticas e a reestruturação e assimilação desse novo formato tanto pelas Vias Mediáticas como pelos próprios consumidores. A tão esperada chegada da Web 3.0 tratando de seus funcionamentos, conceitos e inteligência e, por fim, tentar demonstrar como a Internet se tornou no nosso ponto de vista um 4º Poder tão importante, tão completo e tão poderoso a ponto de fazer com que voltemos brevemente no tempo e paremos para pensar se o conceito de Vigilância do Panóptico de Foucault não deveria ser revisto e aplicado dentro da razoabilidade nessa sociedade global cibernética que se constrói a cada dia. Se não o fizermos, estamos sujeitos a incorrer no engolimento por nós mesmos de nossa Soberania e quiçá de nossa democracia.

 

Artigo escrito por Mathias Naganuma CEO do Grupo NK7.

mathias@nk7.com.br

 

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